No hotel tomou um duche e trocou as jeans confortáveis pelo vestido preto decotado e justo, mas igualmente confortável. Não era uma bebida entornada que lhe ía estragar o fim de semana, nem tão pouco uns penetrantes olhos negros. Desceu ao bar, com um leve sorriso estampado no rosto.
Repentinamente o sorriso desvaneceu-se. Não queria acreditar. Não podia acreditar!
- Que fazes aqui?? Seguiste-me?
Só mais tarde na tranquilidade do leito percebeu o ar incrédulo e surpreso dele. Conhecia-o bem. Por baixo daquela aparência extremamente elegante do seu metro e noventa musculado, de feições correctas e tez morena, sabia que estava um ser incapaz de mentira. Podia ser bruto, por vezes rude de palavras, demasiado frontal, sem evitar ferir, mas nunca lhe apanhara uma mentira.
- Estás louca? Acreditas mesmo que eu te seguiria?
- Sei lá... respondeu, sem muita convicção.
- Pois deverias saber!! Vou pedir que me sirvam o jantar no quarto... disse-lhe, enquanto puxava para trás a madeixa de cabelo e deixava a descoberto os olhos grandes, brilhantes, luminosos, de um negro inconfundível.
Atravessou a sala e acabou por jantar sózinha numa mesa recatada do restaurante, embrenhada em pensamentos.
O Chivas acalmou-lhe o arrepio provocado pela aragem suave. O céu mantinha-se estrelado, mas à noite arrefecia sempre. Fixou o olhar no firmamento onde o mar e o céu se beijam e deixou-se embalar pela brisa fresca e o calor da bebida.
- Uma indiscrição em troca de uma bebida? Boa noite.
Não! Ali estava o parvalhão do Moinho, de copo esticado. “Mas o que é que este gajo quer?” Teve vontade de lhe atirar “Você não perde tempo!”
Enquanto o via afastar-se ainda sussurou “Gostava de apreciar a tua cara de parvo se eu aceitasse o convite”