29 de dezembro de 2007

Controle



Fred Cress


Vêm sempre na mesma carruagem.

Ele com ar dominador, de quem se sabe bom, sorriso convencido, mãos habilidosas.

Ela, ela desejosa, sempre de vestido ou saia, corpo perfeito, sorriso encantador.

E é sempre a mesma coisa, ele a ela encostado sem nada dizerem, sempre rodeados por gente que tal como eu nada vêem.

Eles de mãos vadias, habituadas a escorrerem por corpos, que escaldam quando lhe tocam, anestesiando-a.

Ela deixando-o fazer, lábios entreabertos, gozando o toque, afastando as pernas para se pôr mais a jeito, ou abrindo mais o decote para lhe facilitar o toque.

Ele não se cansa de com as mãos a correr, ela oferecendo-se sempre mais.

Ele roçando-se, pega-lhe nas mãos e põe-nas onde ela o pode afagar

E assim vão, todo o caminho que juntos fazem.

Até que se ouve: - próxima estação Algueirão

Então ele abraça-a, afasta-se e ela fica com ar de quem a vida ou a vontade tiraram

E já com as portas a fechar, vira-se ainda e com sorriso sardónico avisa

- Amanhã à mesma hora

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