30 de dezembro de 2007

Chegada...


A noite começou a cair sobre a paisagem envolta numa leve bruma... a carruagem bar estava confortávelmente quente e à média luz... com os olhos perdidos no nada, rolo o meu balão de Cognac entre os dedos... lá fora, as luzes das petites villes começavam a brilhar, aqui e além...


O barman reclinado sobre o balcão conversa com um homem, de quando em vez sinto que me olham, mas os nossos olhos não se cruzam, os meus andam perdidos a divagar... sinto um vulto ao meu lado, de pé... ergo os olhos e vejo um balão de Cognac fumegante, como eu gosto...


Posso tomar a liberdade de lhe oferecer uma bebida...?

Oui...


Pouso o meu copo já vazio e recebo o novo da sua mão macia... seguro-o com ambas as mãos, aquecendo-as nele, levo-o aos lábios, sinto aquele toque de veludo quente que me escorre na garganta e me aconchega a alma...


Merci...

Cortesia do gentleman que está ao balcão...


Olho para o bar, vejo uns olhos negros profundos que me observam e um sorriso delicioso... agradeço com um ligeiro aceno de cabeça e um sorriso e perco-me de novo nos meus pensamentos... acompanhada pelo Cognac fumegante e pela minha cigarrilha.


É hora de ir descansar um pouco, que a viagem ainda é longa... dirijo-me à porta da carruagem, vejo um vulto que a segura, aberta, dando-me passagem... Mademoiselle... Merci... os olhos cruzam-se... aquele olhar profundo e negro... estamos frente a frente, à distância de um toque, de um olhar, e aqueles olhos parecem acariciar-me, beijar-me com um desejo desmedido... solta a porta e ficamos assim, face a face, no corredor da carruagem, sem falar, sem fazer menção de nos mexermos sequer... apenas os olhos falam... até que as bocas se tocam, atraídas como ímanes, o beijo é suave, mas logo arde de paixão... as suas mãos percorrem-me o corpo, os cabelos, as minhas perdem-se nele... não consigo deixar de fitar aqueles olhos negros... perco-me neles e caímos no chão do corredor...


Amanheceu mas a neblina está cerrada... Lisbonne, Gare de L'Orient... caminho lentamente até à porta da carruagem, desço ao cais e vejo-te... dou uns passinhos rápidos e abraço-me a ti com um grande beijo...


Roxanne... que saudades!


Loulou... oiço ao longe chamar... viramo-nos para trás abraçadas... pendurado na escada da carruagem lá está ele, com os seus olhos negros e um sorriso de morrer, acenando e atirando um beijo no ar... retribuo... olhamos uma para a outra e damos uma risadinha tonta, muito nossa...


Ah Loulou, ma folle!

Oui... c'est moi!


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