11 de julho de 2008

Arrepios XXII...


- Não quer sentar-se primeiro? Assim parece que veio, não pela companhia, mas para inquirir. Permita-me... o que a levou a pensar que hoje desistiria do convite?

“Imaginar que talvez não fosses mais um idiota de um D. Juan?...”

- Para começar, não entendi a motivação do convite...


“Sabe tão bem, parecer loira...”

Olhou de relance o telemóvel que dava sinal. Os olhos denunciaram a hesitação. Escreveu apressado, como quem escreve um qualquer recado sem importância.


“Disfarças bem mas não convences”

- Já nos tinhamos visto no Moinho
“Ai já?? Pensei que estavas atento ao beijo...” (esboçou um sorriso irónico que lhe terá passado despercebido porque continuava a frase apesar de o telemóvel dar sinal novamente) depois aqui, ainda por cima com quem... “já estás a meter o nariz onde não és chamado!” Achei giro a coincidência “Ou temeste ser denunciado?” e tive vontade de a conhecer. Não foi nada racional. “Ah pois não, que ideia?!” Apenas um impulso. Foi má ideia?

Estava visivelmente nervoso e ficava ridículo naquele papel de descontração forçada. “Homens!! Nem precisam de livro de instruções! Têm um rótulo na testa a indicar sempre a próxima sacanice” Sorriu para suster o riso e soltar a tensão que lhe provocava a recordação da mensagem que ele lhe enviara “Vamos jogar. Amo-te!” Há quanto tempo não faziam aquele jogo...

- Parece que os nossos “amigos” desceram juntos. Digo-lhes para nos fazerem companhia ou ainda está irritada com ele?


- Raramente me irrito, o médico disse-me que prejudica gravemente o meu umbigo! – tinha de dizer um disparate qualquer para soltar o riso e a tensão, sem levantar suspeitas - Amigos? Ele? Desculpe, não percebi...


- O seu marido... Você ontem estava a discutir com ele no bar, por ele a ter perseguido...


- Deve estar a fazer confusão...


- ??? Foi o que você disse...


- Então peço-lhe desculpa, devia estar a pensar no livro que estou a escrever e confundi a conversa.


- Mas o seu marido?... Aquele homem com quem estava no bar?...


- Agora é você quem deve estar a fazer confusão.


“Aposto que os teus neurónios andam à estalada uns aos outros”

Não ouviu mais nada. Enrolou o cabelo nos dedos, como fazia sempre que estava tensa. Ali estava ele, mais charmoso que nunca, naqueles olhos que o polo azul tornava ainda mais negros como o cabelo, ainda húmido. Conseguia sentir-lhe o cheiro mesmo à distância. Um arrepio percorreu-lhe o corpo ao imaginar-lhe o toque. Sentiu a excitação crescer quando ele a fitou. A figura dele ofuscava o mundo em redor, de tal forma que não a deixou ver a mulher que se aproximava...

- Bom dia. Vejo que tem companhia, posso juntar-me?

Nem lhe permitiu perceber a atrapalhação que provocara no interlocutor que tentava apresentá-las sem saber o nome de uma ou de outra.

A Outra

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