4 de junho de 2008

Arrepios III...


- Foi muito amável ao emprestar-me o seu casaco à pouco. Mais uma vez, obrigada.

- Não me agradeça. O seu cheiro ficou nele. Foi compensação suficiente.

- ...

- Peço desculpa. Não a queria embaraçar. A verdade é que foi muito agradável. Posso perguntar se está por aqui em trabalho?

- Infelizmente. E você?

- Uma mistura. Vim a trabalho mas aproveitei para descansar um pouco. Vou ficar mais dois dias e depois volto ao "inferno".

- Porque é que presumiu que eu estava em trabalho?

- Achei a sua companhia ao jantar demasiado formal para ser prazer. Juntando isso com o facto de os ter abandonado para vir para aqui, acrescentando as sms durante o jantar... Fiquei com a sensação de que a companhia que desejava não estava ali.

- Estava a espiar-me? Isso é muito feio...

- Apenas a admirá-la e a lembrar-me do seu cheiro no meu casaco. Por momentos pensei que tinha corado quando me viu. Depois, reparei que não era eu o culpado.

- Tem sempre tantas certezas a respeito de tudo?

- Posso perguntar quem era? Marido?

- Não.

- Não era o seu marido?

- Não pode perguntar...


Estava a adorar aquele risinho que, junto com o facto de estar a corar novamente, indicavam que algo estava a ter efeito. Eu, ou o alcool? Seria isso importante? Nem tanto. O alcool não inventa nada, só nos desinibe.


- Não queria ser indiscreto. Peço desculpa.

- Não peça. O meu estado civil não me define. Apenas isso. E você? É casado?

- Cada vez menos.

- Devia-se criar esse estado civil, não acha?

- Se calhar devia acabar-se com os estados civis. Resolvia-se muita coisa. Posso trazer-lhe mais uma bebida?

- Está a fazer-se tarde. Na verdade, acho que me vou deitar, apesar da agradável companhia. Amanhã tenho um dia comprido, que acaba numa viagem para Lisboa.

- Nesse caso subimos juntos. Parece-lhe bem?

- ...


Entrámos no elevador. Senti-a corar de novo quando se apercebeu que estávamos no mesmo piso e ainda mais quando chegámos à conclusão de que os nossos quartos ficavam quase em frente um do outro. Não fiz um convite forçado nem esperei que me convidasse a entrar.


- Posso ligar-lhe? Podemos conversar mais um pouco enquanto não adormece.

- Acho que sim. Tem nome? Cavalheiro do casaco quentinho...

- O meu nome não me define...


O Ele

2 comentários:

claras disse...

Sabes, acho que o "ele" está tão bem escrito, com uma sensibilidade de pensamento.

Homens destes existem?
Ah! eu e as minhas desconfianças....
risos

Loulou disse...

Hihihi

Existe, Roxanne, existe... pelo menos na nossa imaginação... ;-)

Beijinhos ma chere