21 de janeiro de 2008

Um olhar...


O bar agitado de vozes, vozes distantes que mal oiço,

o piano ao fundo, cantando solitário, embala-me o pensamento

embrulhado no fumo do cigarro.


Levanto-me para ir ao toilette, a porta trancada faz-me esperar no hall,

a porta do lado masculino abre-se para meu embaraço,

afasto-me ligeiramente e quando o fito vejo uns olhos negros, profundos,

fica parado a olhar-me, admirando-me ostensivamente...

...Quer aproveitar...? hesito ...Fico a guardar-lhe a porta... sugere.

Esgueiro-me por debaixo do seu braço e pela porta entreaberta,

entro no reservado e fecho a porta.


Quando saio vejo-o encostado na porta,
silencioso... sorrio,

dirijo-me ao lavabo e olho-o pelo espelho,
aqueles olhos negros... humm

enquanto lavo as mãos sinto-o aproximar-se,
as suas mãos tocam-me suavemente,

depois começam a percorrer-me, fortes, intensas,

os olhos parecem faíscar,
a boca percorre-me a nuca, o pescoço...

As suas mãos, agora possantes,
dobram-me sobre o lavatório, levantam-me o vestido...

sinto-as percorrer o calor húmido do meu sexo,

no espelho apenas vislumbro os olhos negros,
enormes, brilhantes,

... sinto-o entrar em mim, quente, vibrante...
deixo-me ir...

Ahhhhhh


Enxugo as mãos num papel enquanto me compõe o vestido,

abre a porta, espreita o hall vazio e faz-me um sinal para sair,

uma vez mais esgueiro-me por debaixo do seu braço, agora para sair...

já do lado de fora, viro-me e dou-lhe um beijo nos lábios rosados...

Merci...

2 comentários:

claras disse...

Lindo!

Gostei, como sempre, aliás

Anónimo disse...

Sempre acreditei que os sonhos podem tornar-se realidade. No entanto, ainda que, não deixando de os procurar, ainda não tive a FORTUNA de me cruzar, como nesta peça, num encontro memoravel.
Gostei da partilha ... obrigado